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Doutora, devo tomar vitamina D?

Por Dra. Marcelle Nogueira



A função clássica da vitamina D é regular cálcio e fósforo no metabolismo ósseo do corpo, sendo fundamental para evitar doenças como osteoporose e osteomalácea, que enfraquecem o esqueleto humano. 1,2 Mais recentemente, observamos a presença de receptores desta vitamina em outras regiões do corpo, como intestino, sangue (plaquetas), próstata e pâncreas.3 Mas o assunto mais discutido neste momento é seu relevante papel na sinalização do sistema imunológico. 4,5,6

Diante da atual pandemia, muitos pacientes iniciaram, por conta própria, o uso de cápsulas contendo vitamina D, na tentativa de melhorar a imunidade. É importante, entretanto, fazermos um grande alerta: níveis baixos de vitamina D trazem prejuízos à saúde, mas níveis elevados também!

A ideia de que a vitamina D poderia contribuir com o sistema imunológico neste momento de prevenção relacionado ao coronavírus veio da analogia com alguns estudos que demonstraram o papel da vitamina D em reduzir o risco de infecções virais agudas do trato respiratório e pneumonia.7 Mas até o presente momento, não existem evidências científicas para suplementação de vitamina D em pessoas que não tenham deficiência dos seus níveis dosados no sangue.

Pacientes com vitamina D baixa, podem apresentar redução na densidade dos ossos, com maior risco de fraturas e quedas 1,2, além de dores musculares e fraquezas. Mas a maioria dos quadros de deficiência de vitamina D acontecem de forma silenciosa, sem sinais ou sintomas clinicamente aparentes. 8

Por outro lado, níveis extremamente elevados de vitamina D são associados ao aumento da mortalidade9, demonstrando, portanto, a extrema relevância em manter um acompanhamento médico adequado para monitorizar os níveis adequados e, quando necessário, deixar a dose apropriada para a suplementação, de forma individualizada.

Muitos pacientes perguntam: "Dra, não posso obter vitamina D ao tomar sol ou a partir da alimentação?” A principal fonte de vitamina D é a exposição solar. Com menor contribuição, temos algumas de suas fontes na alimentação. Uma de suas formas, a vitamina D2 ou ergocalciferol é encontrada geralmente em alimentos como cogumelos. Já sua outra forma, a D3 ou colecalciferol, pode ser obtida em alimentos como salmão, óleo de fígado de bacalhau e ovos, além de ser ativada na pele com a exposição solar.

Aqui entramos numa segunda dúvida: “Mas quanto tempo seria necessário de exposição solar?” Existem muitas variações que consideramos ao indicar o tempo de sol: área geográfica do paciente, estação do ano, risco de câncer de pele, idade e até fototipo dermatológico. Em cidades com índices de radiação maiores, por exemplo, precisaríamos de menos tempo. Numa mesma cidade, por sua vez, costumamos ter índices de radiação mais elevados no verão que no inverno.8

No último Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, onde tive a honra de coordenar a sessão de envelhecimento cutâneo, destacamos o fato de idosos terem uma redução de até 50% na capacidade de conversão solar da vitamina D na pele, quando comparados a pessoas mais jovens. Negros, por outro lado, podem precisar de 3 a 4 vezes mais exposição solar, pois possuem maior proteção solar natural proveniente da melanina cutânea.8

De uma forma geral, recomendamos 5 a 15 minutos de exposição ao sol, 4 a 6 vezes por semana, fora do horário de maior risco para câncer de pele, ou seja, antes das 10h da manhã ou depois das 14h.8 Se você ainda tem dúvidas ou precisa de orientação individualizada e segura neste tema, procure um dermatologista da sua confiança.





REFERÊNCIAS:

1.Antonucci, R.; Locci, C.; Clemente, M.G.; Chicconi, E.; Antonucci, L. Vitamin D deficiency in childhood: Old lessons and current challenges. J. Pediatr. Endocrinol. Metab. 2018, 31, 247–260. [CrossRef] [PubMed]

2. Uday, S.; Högler, W. Prevention of rickets and osteomalacia in the UK: Political action overdue. Arch. Dis. Child. 2018, 103, 901–906. [CrossRef] [PubMed]

3. D’Amelio, P.; Cristofaro, M.A.; De Vivo, E.; Ravazzoli, M.; Grosso, E.; Di Bella, S.; Aime, M.; Cotto, N.; Silvagno, F.; Isaia, G.; et al. Platelet vitamin D receptor is reduced in osteoporotic patients. Panminerva Med. 2012, 54, 225–231. [PubMed]

4. Wei, R.; Christakos, S. Mechanisms Underlying the regulation of innate and adaptive immunity by vitamin D. Nutrients 2015, 7, 8251–8260. [CrossRef] [PubMed]

5. Altieri, B.; Muscogiuri, G.; Barrea, L.; Mathieu, C.; Vallone, C.V.; Mascitelli, L.; Bizzaro, G.; Altieri, V.M.; Tirabassi, G.; Balercia, G.; et al. Does vitamin D play a role in autoimmune endocrine? A proof of concept. Rev. Endocr. Metab. Disord. 2013, 18, 335–346. [CrossRef] [PubMed]

6. Sassi F, Tamone C, D'Amelio P. Vitamin D: Nutrient, Hormone, and Immunomodulator. Nutrients. 2018;10(11):1656.

7. Ali N. Role of vitamin D in preventing of COVID-19 infection, progression and severity [published online ahead of print, 2020 Jun 20]. J Infect Public Health. 2020;S1876-0341(20)30531-1.

8. Joshi, Devina & Eisman, John. (2010). Vitamin D deficiency in adults. Australian Prescriber. 33. 103-106. 10.18773/austprescr.2010.053.

9. Amrein, K.; Quraishi, S.A.; Litonjua, A.A.; Gibbons, F.K.; Pieber, T.R.; Camargo, C.A.; Giovannucci, E.; Christopher, K.B. Evidence for a U-shaped relationship between prehospital vitamin D status and mortality: A cohort study. J. Clin. Endocrinol. Metab. 2014, 99, 1461–1469.




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